O ministro da Saúde, Arthur Chioro, foi demitido ontem, por telefone, pela presidente Dilma Rousseff. A conversa, que ocorreu pela manhã, foi telegráfica. A presidente apenas informou ao ministro que precisava do cargo. Chioro havia afirmado que, qualquer pessoa que ficar à frente da pasta enfrentará, no próximo ano, uma situação difícil caso a proposta de Orçamento seja aprovada no Congresso da maneira que foi enviada. De acordo com ele, os recursos reservados para a área de média e alta complexidade pagam as despesas somente até setembro. O cargo de Chioro deverá ser ocupado por um integrante do PMDB. A mudança é um arranjo para o governo obter maior apoio no Congresso.
Menos de 12 horas depois de desembarcar em Brasília, Dilma já teve um primeiro encontro com seu vice, Michel Temer, na manhã de ontem. Os dois tiveram uma rápida reunião no Palácio do Planalto para conversar sobre a reforma ministerial. Para superar o impasse com o PMDB, a presidente sinalizou que estaria disposta a dar sete ministérios à sigla. Até agora, ela trabalhava com o número de seis pastas. Com mais uma, ficaria mais fácil atender à demanda dos deputados peemedebistas, que exigem comandar dois ministérios, além da bancada do partido no Senado e do grupo do vice.
No encontro, Dilma garantiu a Temer que quer prestigiar todas as alas do PMDB na reforma e disse que foi aconselhada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros aliados a ampliar o espaço da legenda no governo. Segundo auxiliares de Temer, ele saiu convencido de que a presidente está disposta a resolver o problema com o PMDB e a contemplar todo o partido na reforma ministerial.
A presidente ficou de conversar pessoalmente com Chioro para tratar de sua demissão. Não há ainda uma definição de que dia ele deixará a pasta, mas a expectativa é que o novo desenho da Esplanada seja anunciado até amanhã. No último dia 24, os dois estiveram reunidos no Palácio da Alvorada para tratar da reforma ministerial. Três dias antes, Chioro dava sua saída como certa, após reunião com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, em que foi comunicado sobre a necessidade de deixar o cargo. Desde então, ele tem avisado a servidores próximos sobre seu afastamento. Dentro do ministério, há um descontentamento com a troca de comando e um receio de reflexos nos cargos de segundo escalão. A gestão do petista tem sido bem avaliada por especialistas da área devido ao seu comprometimento e postura técnica na condução da pasta. O ministro participou da gestão da pasta de 2003 a 2005 como diretor do Departamento de Atenção Especializada. Neste ano, ele se destacou na defesa da recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), proposta pelo governo.
Na avaliação de pessoas próximas a Chioro, a forma da demissão foi uma resposta às declarações recentes dele sobre a situação da Saúde. Em nota, o Ministério da Saúde informou que o telefonema da presidente com Chioro foi sobre a reforma ministerial. “O ministro Arthur Chioro tem conversado com a presidente Dilma Rousseff sobre as articulações envolvendo a pasta na reforma ministerial”, diz o texto. A assessoria do Palácio do Planalto confirmou a demissão e disse que foi uma confirmação da mudança, já discutida pela presidente com Chioro na última quinta-feira.
No Senado, a bancada do PT está descontente em perder a Saúde para o PMDB. Parlamentares temem retrocessos em avanços sociais conquistados desde que o petista Alexandre Padilha assumiu o cargo, em 2011. Na avaliação deles, os peemedebistas têm perfil conservador e os três ministros do partido que ocuparam o cargo tiveram uma gestão insatisfatória. Além disso, o deputado Saraiva Felipe (MG) teve o nome envolvido no escândalo dos sanguessugas, esquema de corrupção de desvio de recursos destinados à compra de ambulâncias. Nas discussões da reforma política, o mais cotado para assumir a pasta é o deputado Manoel Júnior (PB), ligado ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Outro nome indicado pela bandada do partido para o cargo é o deputado Marcelo Castro (PI).