Almério se dedica aos preparativos do seu segundo álbum, “Desempena”, pela Natura Musical
Uma breve revisada na história da música pernambucana basta para perceber que parte expressiva da cultura do Estado está no seu Interior. Através de nomes como Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo, Otto e Cordel do Fogo Encantando, cujas origens estão ligadas ao Agreste e ao Sertão, por exemplo, a música pernambucana escreveu sua particular assinatura no cenário nacional. Mas logo os municípios mais distantes se habituaram a perder seus talentos para as capitais, onde historicamente sempre houve mais público. No entanto, essa realidade vem sendo transformada recentemente por iniciativas independentes.
É o que conta Kacike Cândido, da banda de hardcore Doppamina, de Serra Talhada e produtor do Cangaço Rock Fest. O grupo também faz parte do Encontro de Bandas Alternativas de Serra Talhada (Ebasta), que promove shows gratuitos de conjunto autorais nativos nas praças da cidade. “Com a chegada da Universidade Federal Rural (instalada em 2006), começaram a surgir novos bares, que davam abertura para cena local, e a vir pessoas de outras cidades que tinham essa demanda cultural”, explica o músico, ao apontar as razões que favoreceram a nova movimentação musical na região.
Acostumado a receber bandas de forró e sertanejo em suas grandes festas, o Sertão do Pajeú começa a abraçar a cena local também em eventos feitos pelas prefeituras, como é o caso da Festa de Setembro, de Serra Talhada, que neste ano apresentou a própria Doppamina e outros filhos da terra em sua programação, como Petrônio e As Criaturas. “Artista sempre existiu, mas o processo de organização dos artistas é uma coisa nova por lá”, observa o vocalista Petrônio Lorena.
O Coletivo Mangaio é fruto dessa articulação recente entre os músicos e aglutina expoentes de Triunfo, Afogados da Ingazeira, São José do Egito, além da própria Serra Talhada. “Tudo é feito de forma colaborativa. Nos unimos para fazer eventos mensais que sempre acontecem em uma das cidades envolvidas, contando com shows de uma banda de cada lugar”, explica uma das produtoras Laeiguea Souza, de Afogados, que também organiza o coletivo municipal Espaço e Resistência, do qual faz parte grupos como o Lisergia, que compõe temas de rock psicodélico e progressivo.
Todas as cidades que participam do Coletivo Mangaio deve contar com uma organização própria de bandas. Em Triunfo, por exemplo, a dupla Radiola Serra Alta fica à frente do coletivo Ambrosino Martins. Vestidos de Careta e Veinha, personagens do Carnaval, os dois trazem já na imagem a proposta de explorar a cultura regional, associando-a a elementos eletrônicos. O dueto tocou no festival recifense Porto Musical de 2015 e no britânico Glastonbury deste ano.
“Junto com o desejo de explorar a tecnologia, veio também o desejo de nos descobrir como sertanejos. Ao mesmo tempo que a monocultura musical massifica, também provoca um tédio, por isso acho natural que agora as pessoas comecem a buscar o local como algo diferente. É muito legal tocar fora, mas temos a consciência que precisamos cativar um palco aqui, porque é uma coisa endógena”, diz um dos integrantes da dupla que reside em Triunfo e não revela sua identidade.
Natural de Altinho e criado em Caruaru, Almério avalia que ainda falta para o Interior fervilhar. Atualmente vivendo em São Paulo, como parte do elenco da peça “Gabriela”, de João Falcão, e prestes a lançar o segundo disco “Desempena”, pelo edital da Natura Musical, o músico também investe na cultura local em diálogo com a música mundial. “Falta mais investimento do poder público e mais respeito pelas bandas e artistas, mas o movimento é legítimo. Não é nada fácil, trabalho há 13 anos com música e somente nos últimos 3 é que as coisas começaram a acontecer pra mim. Nesses anos todos, eu e meus amigos de lida, sempre reforçamos a importância da conscientização do público”, conclui ele.
Festivais com grade própria no Agreste
Recentemente, produtores recifenses também passaram a levar grandes eventos para o Agreste, incluindo atrações da região em suas programações que, ao levar nomes famosos, prometem ampliar o público dos locais. Há 14 anos sediado em Recife, o festival No Ar Coquetel Molotov conta com a etapa Belo Jardim pelo segundo ano consecutivo. Em 2016, a versão agrestina contou com um edital para bandas da área.
“No começo, íamos escolher duas bandas do Agreste, mas ficamos tão animados que serão quatro no total. Fiquei muito surpresa, porque tem bandas de gêneros variados. Algumas já existem há um tempo, mas faltava oportunidade. Espero que essa iniciativa seja também uma maneira de outros festivais abrirem os olhos para isso”, indica a produtora Ana Garcia, que irá anunciar todos os nomes do evento no próximo dia 13.
Outro exemplo é a primeira edição do festival Caruaru Prime Music, que acontecerá nos dias 9 e 10 de dezembro. “Teríamos só o palco principal, mas o evento foi crescendo e surgiu essa demanda das bandas de Caruaru e cidades vizinhas. Estamos recebendo materiais e vendo que a galera se profissionalizou, por isso colocamos um palco alternativo para abrir os dias e tocar nos intervalos”, explica o produtor Lucas Praxedes. O evento contará com shows de Nação Zumbi, Lenine, Legião Urbana e Paralamas do Sucesso no palco principal. Do FolhaPE
Uma breve revisada na história da música pernambucana basta para perceber que parte expressiva da cultura do Estado está no seu Interior. Através de nomes como Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo, Otto e Cordel do Fogo Encantando, cujas origens estão ligadas ao Agreste e ao Sertão, por exemplo, a música pernambucana escreveu sua particular assinatura no cenário nacional. Mas logo os municípios mais distantes se habituaram a perder seus talentos para as capitais, onde historicamente sempre houve mais público. No entanto, essa realidade vem sendo transformada recentemente por iniciativas independentes.
É o que conta Kacike Cândido, da banda de hardcore Doppamina, de Serra Talhada e produtor do Cangaço Rock Fest. O grupo também faz parte do Encontro de Bandas Alternativas de Serra Talhada (Ebasta), que promove shows gratuitos de conjunto autorais nativos nas praças da cidade. “Com a chegada da Universidade Federal Rural (instalada em 2006), começaram a surgir novos bares, que davam abertura para cena local, e a vir pessoas de outras cidades que tinham essa demanda cultural”, explica o músico, ao apontar as razões que favoreceram a nova movimentação musical na região.
Acostumado a receber bandas de forró e sertanejo em suas grandes festas, o Sertão do Pajeú começa a abraçar a cena local também em eventos feitos pelas prefeituras, como é o caso da Festa de Setembro, de Serra Talhada, que neste ano apresentou a própria Doppamina e outros filhos da terra em sua programação, como Petrônio e As Criaturas. “Artista sempre existiu, mas o processo de organização dos artistas é uma coisa nova por lá”, observa o vocalista Petrônio Lorena.
O Coletivo Mangaio é fruto dessa articulação recente entre os músicos e aglutina expoentes de Triunfo, Afogados da Ingazeira, São José do Egito, além da própria Serra Talhada. “Tudo é feito de forma colaborativa. Nos unimos para fazer eventos mensais que sempre acontecem em uma das cidades envolvidas, contando com shows de uma banda de cada lugar”, explica uma das produtoras Laeiguea Souza, de Afogados, que também organiza o coletivo municipal Espaço e Resistência, do qual faz parte grupos como o Lisergia, que compõe temas de rock psicodélico e progressivo.
Todas as cidades que participam do Coletivo Mangaio deve contar com uma organização própria de bandas. Em Triunfo, por exemplo, a dupla Radiola Serra Alta fica à frente do coletivo Ambrosino Martins. Vestidos de Careta e Veinha, personagens do Carnaval, os dois trazem já na imagem a proposta de explorar a cultura regional, associando-a a elementos eletrônicos. O dueto tocou no festival recifense Porto Musical de 2015 e no britânico Glastonbury deste ano.
“Junto com o desejo de explorar a tecnologia, veio também o desejo de nos descobrir como sertanejos. Ao mesmo tempo que a monocultura musical massifica, também provoca um tédio, por isso acho natural que agora as pessoas comecem a buscar o local como algo diferente. É muito legal tocar fora, mas temos a consciência que precisamos cativar um palco aqui, porque é uma coisa endógena”, diz um dos integrantes da dupla que reside em Triunfo e não revela sua identidade.
Natural de Altinho e criado em Caruaru, Almério avalia que ainda falta para o Interior fervilhar. Atualmente vivendo em São Paulo, como parte do elenco da peça “Gabriela”, de João Falcão, e prestes a lançar o segundo disco “Desempena”, pelo edital da Natura Musical, o músico também investe na cultura local em diálogo com a música mundial. “Falta mais investimento do poder público e mais respeito pelas bandas e artistas, mas o movimento é legítimo. Não é nada fácil, trabalho há 13 anos com música e somente nos últimos 3 é que as coisas começaram a acontecer pra mim. Nesses anos todos, eu e meus amigos de lida, sempre reforçamos a importância da conscientização do público”, conclui ele.
Festivais com grade própria no Agreste
Recentemente, produtores recifenses também passaram a levar grandes eventos para o Agreste, incluindo atrações da região em suas programações que, ao levar nomes famosos, prometem ampliar o público dos locais. Há 14 anos sediado em Recife, o festival No Ar Coquetel Molotov conta com a etapa Belo Jardim pelo segundo ano consecutivo. Em 2016, a versão agrestina contou com um edital para bandas da área.
“No começo, íamos escolher duas bandas do Agreste, mas ficamos tão animados que serão quatro no total. Fiquei muito surpresa, porque tem bandas de gêneros variados. Algumas já existem há um tempo, mas faltava oportunidade. Espero que essa iniciativa seja também uma maneira de outros festivais abrirem os olhos para isso”, indica a produtora Ana Garcia, que irá anunciar todos os nomes do evento no próximo dia 13.
Outro exemplo é a primeira edição do festival Caruaru Prime Music, que acontecerá nos dias 9 e 10 de dezembro. “Teríamos só o palco principal, mas o evento foi crescendo e surgiu essa demanda das bandas de Caruaru e cidades vizinhas. Estamos recebendo materiais e vendo que a galera se profissionalizou, por isso colocamos um palco alternativo para abrir os dias e tocar nos intervalos”, explica o produtor Lucas Praxedes. O evento contará com shows de Nação Zumbi, Lenine, Legião Urbana e Paralamas do Sucesso no palco principal. Do FolhaPE