sexta-feira, 5 de maio de 2017

Profissão Repórter destaca seca no Nordeste. Tabira e Flores estão na matéria

Na zona rural de Petrolina, Jusci Cleide anda por sete horas em busca de água
Desde 2012, os estados do nordeste brasileiro vivem o que já é considerada a pior seca dos últimos cem anos. O período de estiagem afeta a vida de 23 milhões de pessoas que vivem no semiárido nordestino. São 600 mil animais perdidos só em Pernambuco e mais de 600 cidades em estado de emergência por causa da falta de água.

8km de caminhada por água
Jusci Cleide dos Santos mora em um sítio de Petrolina, em Pernambuco, onde o caminhão pipa não consegue chegar pela estrada de areia. Ela anda por 8km a cada dois dias para buscar água direto do rio São Francisco. São sete horas de caminhada.“Ô meu Deus, bota uma nuvem nesse céu”, reza ela no caminho.  Há quatro anos, Jusci vive no sítio com o marido e quatro filhos. Eles vivem da venda de carvão e dos R$220 que recebem do Bolsa Família.
“Gado aqui nessa região virou canibal”
Por conta da seca, os animais do sitiante Manoel Ferreira estão magros, quase morrendo. Ainda assim, ele tenta vender dois bois em Tabira, interior de Pernambuco, na segunda maior feira de animais do estado. “Eu não tenho o que dar de comer aos bichos. Tem gente que deixa, mas eu não deixo morrer, não”, relata Manoel. Depois de cinco horas tentando vender os animais, ele consegue um comprador. Mas ele não pretende ficar com os bois. “(Vou) trocar eles. Porque o dono mesmo vai trocar nos miudinhos. Trocar os grandes por uns pequenos porque come menos. Gado aqui nessa região virou canibal. É vendendo um 
para dar de comer aos outros.”
Por conta da seca, os animais do sitiante Manoel Ferreira, de Flores estão magros, quase morrendo
Montadas, cidade de 5 mil habitantes do agreste da Paraíba, vive uma situação de colapso. A água é distribuída gratuitamente três vezes por semana pelo exército em um programa antigo do governo federal no combate à seca. Há quatro anos a água não chega na cidade. Mas há quem lucre. César Costa, vendedor de água, vende o tambor de mil litros por R$ 40 e o de 250 litros por R$ 10. Ele ganha R$ 12 mil por mês. Se voltar a chover, César perde a renda. “Aí eu procuro outro meio de vida. Estou torcendo para que chova. Para Deus mandar água para todo mundo.”

Água do rio São Francisco não sai da promessa
A água da transposição do rio São Francisco chega a Monteiro, na Paraíba, com festa por parte dos habitantes da região. A água viaja 217km de Pernambuco até Monteiro, onde vai ser liberada para o rio Paraíba, que cruza o estado e abastece 30 cidades. Mas, cinco dias depois da liberação da água, o abastecimento nas casas ainda é irregular. A Companhia de Água e Esgoto da cidade informou que faltam equipamentos que façam o bombeamento necessário para a água chegar ás torneiras das casas. O sanfoneiro Nô da Lagoa não teve água nem por três horas durante o dia depois de dois meses de espera. “Achei que eu fosse sair do balde. Mas vou sair, se Deus quiser.”