quarta-feira, 4 de maio de 2016

Corantes e antibióticos? Os mitos e verdades sobre a qualidade do salmão de cativeiro.



De iguaria rara à opção de refeição saudável encontrada facilmente em qualquer bufê a quilo ou restaurante japonês. Em menos de duas décadas, o salmão se tornou um peixe popular no Brasil devido ao paladar que agrada muita gente, aos propalados benefícios à saúde e ao fato de ter tido o preço reduzido.
Isso só foi possível devido ao aumento da criação do peixe em cativeiro, tornando a oferta bem maior e o produto, mais barato.
De tempos em tempos, no entanto, textos se disseminam em alta velocidade nas redes sociais condenando o consumo do salmão de cativeiro – que seria repleto de corantes e antibióticos e, portanto, maléfico à saúde.
Para tirar isso a limpo, a BBC Brasil procurou alguns dos maiores especialistas do país em nutrição e também em criação de peixes em cativeiro. Em resumo, eles dizem que não há motivo para tanta preocupação.
De acordo com José Eurico Possebon Cyrino, especialista do setor de piscicultura da Escola Superior de Agricultura da USP, qualquer diferença de origem do pescado se reflete na sua composição.
"A composição corporal do salmão capturado no Alasca é diferente daquela do salmão capturado no Canadá, que é diferente daquele capturado na Europa", explica. "Em peixes, mais do que em qualquer outro animal, vale o aforismo: 'você é aquilo que você come'."

Cativeiro

De acordo com os textos que circulam na internet, o problema seria justamente a alimentação do animal de cativeiro. Os animais criados em viveiros teriam menos ômega-3 que os selvagens e seriam coloridos artificialmente com substâncias supostamente causadora de câncer, problemas de visão e alergias.
Os especialistas afirmam que isso não é verdade. "As rações utilizadas na salmonicultura são muito boas, excelentes mesmo", diz Cyrino, que também é professor da USP. "Assim não fosse, as operações seriam economicamente inviáveis; os animais simplesmente morreriam (a má alimentação causa um colapso do sistema imunológico do animal)."
Supervisor da área de Pesca e Aquicultura da Embrapa em Palmas (TO), Giovanni Vitti Moro vai na mesma linha. "A farinha utilizada como ração para peixes carnívoros é obtida a partir de resíduos do processamento de peixes ou de peixes inteiros capturados para este fim", explica Vitti Moro. "Esse ingrediente não traz nenhum risco para a saúde humana, nem para os peixes, desde que processado de maneira adequada."Ainda de acordo com o especialista da Embrapa, o uso de corante tampouco representa problema. "Eles geralmente são produzidos a partir de leveduras, de forma natural, sendo que os que são utilizados são compostos carotenoides (pigmentos naturais encontrados em alimentos como a cenoura)", acrescentou Moro.