quarta-feira, 23 de novembro de 2016

PE registra queda no número de transplantes de rim, coração e fígado

Taxa de doadores por 1 milhão de habitantes recuou ao índice de 2013.
Doações de órgãos sólidos diminuíram 17% em relação ao ano passado.


Bebê aguarda transplante com 'coração artificial' há um mês no CE (Foto: Reprodução/TV Verdes Mares)Número de transplantes de órgãos sólidos caiu em PE (Foto: Reprodução/TV Verdes Mares)
Dados da Central de Transplantes de Pernambuco, divulgados esta semana, revelam uma queda no número de doadores de órgãos no estado. Este ano, o índice de doadores de órgãos por um milhão de habitantes atingiu 14,77, indicador um pouco maior do que o registrado em 2013: 13,3. Em 2015, a taxa chegou a 18,22, após apresentar aumentos sucessivos nos anos anteriores. O número de transplantes de coração, fígado, rins e pâncreas caiu 17% em comparação com o ano passado.
De janeiro a setembro, foram feitas 315 doações dos chamados órgãos sólidos, aqueles que ficam no tórax e no abdômen. Em 2015, no mesmo período, foram registrados 379 transplantes.
Dos quatro tipos de transplante, apenas um apresentou melhora. Foi o de rim/pâncreas -- o pâncreas só pode ser doado com um dos rins --, que cresceu de dois para seis. Já o de coração foi o que teve a maior queda: 22%, de 36 para 28.

Depois, ficou o de rim, com 20% de queda (de 254 para 202), e o de fígado, que caiu 8% (de 86 para 79).
Entre os tecidos, a maior baixa foi a das doações de medula óssea, que retraíram em 13%, de 172 para 150 em um ano. Apesar dos dados, Pernambuco é o estado que tem o melhor desempenho no Norte/Nordeste, segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).

Para a coordenadora da Central de Transplantes, Noemy Gomes, a explicação está no número de mortes encefálicas, que caiu quase 20% do ano passado para cá. “Só esse dado impacta diretamente quantidade de doadores e, consequentemente, de transplantes. Sem doador, não há transplante. Eu estou fechando 2016 com dados de três anos atrás”, comenta.
Para mudar essa realidade, a coordenadora acredita que é preciso intensificar o trabalho para esclarecer a população sobre a morte encefálica. “Quando a gente diz que alguém morreu, a gente imagina um corpo frio, pálido. Mas, na morte encefálica, o coração bate. Então, a gente tem que entender que morte encefálica é morte, não é coma”, ressalta.
Quando a gente diz que alguém morreu, a gente imagina um corpo frio, pálido. Mas, na morte encefálica, o coração bate. A gente tem que entender que morte encefálica é morte, não é coma"
Noemy Gomes, coordenadora da Central de Transplantes de PE
Ainda de acordo com ela, ter esse entendimento é fundamental para a realização do transplante de coração. “Eu tenho um tempo que não pode perder. A partir do momento que o coração para, não tem como doar. No caso da córnea, não, o coração para, mas a córnea pode ser retirada até seis horas depois. Se o corpo for congelado, são 24 horas”, explica.
Outra linha de ação, segundo Gomes, é orientar os profissionais de saúde a lidar com as famílias dos pacientes. “São eles que comunicam a morte. Eles têm que fornecer as informações necessárias para que a família tenha autonomia para recusar ou não a doação”, defende.

Nesse sentido, ela diz que a Central de Transplantes promove cursos de capacitação nos hospitais. O problema é conseguir a adesão dos profissionais, especialmente dos médicos. "A gente tem muita adesão dos enfermeiros, mas o que a gente precisa mais é da equipe médica. Existe um fascínio pela figura do médico, o que é cultural. O comando do tratamento do tratamento é do médico. Então, é necessário o envolvimento dele", avalia.

Aumento
Apesar da queda no número de doações dos órgãos sólidos, a Secretaria de Saúde registrou um aumento no total de transplantes realizados no estado. Entre janeiro e setembro deste ano, foram realizados no estado 1.062 procedimentos, um crescimento de 9,26% em comparação com o mesmo período do ano passado.

De acordo com a secretaria, esse aumento foi impulsionado pelos bons resultados obtidos com os transplantes de córnea, que subiram de 416 em 2015 para 592 em 2016, um crescimento de 42%. Ainda segundo a pasta, 1.215 pessoas estão na fila de espera em Pernambuco. Dessas, 811 esperam um rim, 273 precisam de córnea, 92 de fígado, 16 de coração e um de rim/pâncreas.