sexta-feira, 10 de junho de 2016

Mães aprendem a fazer kits para estimular bebês com microcefalia.


Oficina é oferecida pela Fundação Altino Ventura, no Recife. 
Materiais utilizados são de baixo custo e estimulam visão e audição.



As mães de bebês com microcefalia ganharam um aliado para estimular os filhos a desenvolver a visão e audição. A Fundação Altino Ventura (FAV) começou a oferecer, nesta quinta-feira (9), uma oficina em que ensina a fazer brinquedos com materiais baratos, como garrafas e bolas de isopor. As aulas acontecem na sede da entidade, no Recife.
Os kits feitos pelas mães, com orientação da equipe da fundação, contam com placas coloridas, bolas de isopor com fitas em preto e branco, além de chocalhos. A dona de casa Milena Carneiro da Paixão ficou surpresa ao ver a reação do filho de nove meses, Davi, com os novos brinquedos.
Davi nasceu com microcefalia e, durante os exames, foi constatado um problema na audição. Através dos estímulos de brinquedos, como o que a mãe aprendeu a fazer, o menino conseguiu perceber melhor o mundo em volta.  “Cada coisa que ele tenta pegar, cada som que ele faz, cada coisa que ele acompanha com a vista, traz muita alegria para a família toda”, explica a dona de casa.
Os problemas de vista são frequentes entre os bebês com a malformação do cérebro. Os estímulos são essenciais para que essas crianças possam se integrar e ter uma qualidade de vida melhor. Mais do que fazer os objetos, as mães aprendem como brincar estimulando os filhos, destaca a médica Liana Ventura.
“Esse material já é programado para estimular os sentidos da criança. Toda a parte auditiva, visual e até mesmo física é estimulada.  Isso é o empoderar a mãe, mostrar a ela como brincar para estimular o filho”, explica a médica.
Os brinquedos são apenas modelos artesanais, que podem ser aperfeiçoados a partir do entendimento de para que e como eles funcionam. “A garrafa pet, usando arroz, farinha e feijão, é usada para estimular a audição. Utiliza a musicoterapia para estimular as vibrações, os estímulos, a quebra de medo e principalmente a inclusão dessa criança”, detalha Liana Ventura.
O contraste de cores é usado até mesmo com crianças de menos de três meses, usando principalmente o preto e branco, além de amarelo e vermelho. Tato e visão ganham atenção nessa hora. “Quando a criança tem uma deficiência visual mais profunda, buscamos utilizar materiais luminosos para que através de fonte luminosa a criança pode ampliar o campo visual”, aponta Ventura.
A dona de casa Geisielle Brandão aprovou a ideia de poder auxiliar o desenvolvimento do filho, João Miguel. Sem nunca ter feito artesanato na vida, ela achou fácil confeccionar os brinquedos. "A bolinha estimula o visual, o contraste do preto com o branco. Nunca tinha feito, está sendo bom, porque são coisas que posso fazer em casa. Ele reage bem aos estimulos, tanto na audição quanto na visão", comemora a mãe.
Zika e Visão
Os pesquisadores da FAV revelaram também, nesta quinta, a documentação do primeiro caso de um bebê sem microcefalia, mas com graves lesões oftalmológicas causadas pelo vírus da zika. Até então, acreditava-se que apenas crianças com a malformação originada pelo zika durante a gestação poderiam desenvolver algum problema de visão.
Esse primeiro caso documentado, publicado esta semana em artigo na revista científica The Lancet, é de um bebê de seis meses. Sem nenhuma característica da microcefalia, a criança só foi submetida aos cuidados da FAV por apresentar espasmos motores. A mãe da criança não sabia que havia contraído o vírus durante a gravidez, já que não teve nenhum sintoma. Até então, o estado de Pernambuco apresenta 68 casos de bebês que tiveram contato com o vírus da zika, mas que não apresentaram microcefalia, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES).