quarta-feira, 15 de junho de 2016

Superlotação e falta de funcionários deixam Cisam em situação caótica.


TV Globo flagrou problemas na maternidade, no Recife, nesta terça (14).
Pacientes são atendidos nos corredores; acompanhantes dormem no chão.



Uma das maternidades públicas mais tradicionais do Recife, o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam) está em uma situação caótica. Por conta da superlotação na unidade de saúde localizada no bairro da Encruzilhada, na Zona Norte da capital pernambucana, grávidas, mães e bebês são atendidos nos corredores, acompanhantes dormem no chão e faltam médicos e enfermeiros no local. 

Do lado de fora, na recepção, não dá para perceber os problemas existentes dentro do Cisam, mas vídeos enviados  mostram o que acontece na maternidade. Sofás, cadeiras e até consultórios médicos viraram leitos. Os corredores estão lotados, e os pacientes são atendidos sem o mínimo de condições para receber o atendimento.

Luan Gabriel, filho da dona de casa Tassia da Silva Paula, nasceu na noite da segunda-feira (13). A mãe conta que, antes de conseguir ser atendida, foi recusada três vezes no próprio Cisam por falta de vaga. Ela esteve em outras duas maternidades e também não conseguiu ter o bebê, por isso voltou ao Cisam, onde conseguiu fazer a cesariana no sufoco. “Por causa da superlotação, não estavam aceitando ninguém. Eu disse que ficaria aqui [no Cisam] e só sairia quando o meu filho nascesse”, relembra.

No leito ao lado, a acompanhante de outra mãe de recém-nascido estava embaixo da cama dormindo no chão. “Cada um dos acompanhantes dorme no chão, pois só tem uma cadeira aqui. E quando não tem, temos que dormir no chão”, conta a doméstica Jéssica da Silva.


A aflição alcança os pais também. O segundo filho de Silvio nasceu na manhã desta terça-feira (14). Até o final da tarde, ele não tinha conseguido ver o bebê e a esposa dele. O motivo? A superlotação. “É um sofrimento não poder nem acompanhar na hora do parto nem poder estar com nosso filho, mas fazer o que se o sistema está assim?”, lamenta o vendedor Silvio Welington.

O Cisam conta com oito leitos do pré-parto, mas 35 grávidas estavam esperando pelo parto, ou seja, quase cinco vezes a capacidade normal. A situação é crítica também na UTI Neonatal: são oito vagas para dez bebês em estado grave. “Isso é resultado do caos que estamos vivendo no Brasil de perda de leitos em maternidades nos últimos anos, principalmente no interior", afirma o gestor executivo do Cisam, Olímpio de Moraes Filho.

Uma Central de Regulação encaminha as mulheres grávidas para grandes hospitais, principalmente do Recife, onde existem apenas cinco unidades de alto risco. "A situação do Cisam está um pouco pior que as outras maternidades e, desde às 7h, a Central de Regulação parou de encaminhar novas pacientes. Mas elas continuam chegando à capital e estão indo para o Barão de Lucena, o Agamenon Magalhães, o Imip e o Hospital das Clínicas”, ressalta o gestor.

Falta de profissionais
O problema da superlotação da maternidade se agrava ainda mais pela falta de pessoal. A direção do Cisam revelou que nem durante os dias com capacidade normal os funcionários da unidade são suficientes para atender a todas as mães e os bebês. Para atender os leitos disponíveis, seriam necessários 120 enfermeiros, mas o quadro atual conta apenas com 44. Além disso,144 técnicos de enfermagem e 7 obstetras estão faltando na escala.

“Temos um quadro deficiente de funcionários: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e de laboratório. Quando um local que pode atender oito mulheres atende dezoito, fica difícil porque as pacientes estão em poltronas, não é o local ideal e termina a qualidade caindo sim e claro que piora a assistência e todos nós sofremos com isso”, afirma o gestor.

O Cisam é administrado pela Universidade de Pernambuco (UPE).