quarta-feira, 15 de junho de 2016

Pesquisadores capturam tubarões-tigre em Fernando de Noronha.


Os pesquisadores André Sucena Afonso, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, que é biólogo marinho, e Léo Veras, curador do Museu dos Tubarões e  engenheiro de pesca, estão realizando a captura de tubarões da espécie tigre em Fernando de Noronha para estudo. O objetivo é analisar  o comportamento e a distribuição geográfica  desses animais.  Para isso os tubarões são retirados do mar,   recebem um transmissor que emite um sinal via satélite e em seguida são liberados  e passam a ser monitorados. O trabalho tem autorização do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio).


A primeira saída da expedição foi realizada domingo (12), na região do Boldró. Os pesquisadores lançam uma armadilha chamada espinhel, que conta com dez anzóis, todos com peixe fresco para atrair os tigres. No primeiro dia de atividade foram capturados quatro animais, três da espécie tigre e um lixa. “O início do trabalho me deixou bastante satisfeito, em pouco mais de três horas nós fizemos a captura de três tubarões tigres, nosso objeto de pesquisa. Eles mediam entre dois metros e dois metros e cinquenta e pesavam entre 70 e 100 quilos, nós pegamos tigres juvenis. Enquanto no Recife eu lançava 200 anzóis e não capturava nenhum animal, em Fernando de Noronha nós lançamos dez anzóis e  capturamos três indivíduos. “, revelou André Afonso,  que mora na capital pernambucana e juntou-se a Veras, pesquisador da ilha, para realizar a pesquisa até o final do ano. Dois , dos três animais foram batizados, eles ganharam os nomes Elisa e Orlandinho, o terceiro , que é um macho, ainda deve ganhar o nome.

Os animais passam a ser monitorados via satélite (Foto: Léo Veras)
Léo Veras já realizou capturas comerciais de tubarões em Fernando de Noronha, atividade que deixou de executar há 19 anos. O resultado da primeira expedição surpreendeu o engenheiro  de pesca. “Nós colocamos os anzóis a uma profundidade de 40 metros.  Eu fiquei surpreso com a quantidade de tubarões capturados, na época que eu realizada este trabalho eu não pescava tão raso, no passado a gente só tinha sucesso na pesca noturna,  desta vez fizemos atividade pela manhã. Lançamos o espinhel às 8:30  e recolhemos por volta de 11:30h, foi um tempo muito curto. Isso pode indicar que hoje o número de tubarões em Noronha é maior do que que há duas décadas. Pelo jeito tem muito tigre na ilha, isso não é uma opinião isolada, mergulhadores antigos relatam que estão avistando mais tubarões desta espécie,    temos que investigar”, analisou Veras.

O engenheiro de pesca Veras acredita que as medidas de proteção determinadas pelo Instituto Chico Mendes podem ser um dos motivos do aumento da população de tubarões.  Ele avalia também que outros fatores podem influenciar. “Eu vejo mais tubarões quando mergulho atualmente. O que está acontecendo no oceano  pode contribuir para as mudanças, algumas espécies podem estar diminuindo a população e outras espécies  podem estar crescendo”, afirmou.

Os animais ficam presos até serem colocados no barco 
Ataques
As informações coletadas agora  vão ser utilizadas por Léo Veras nas palestras e no Museu na ilha. Os dados também vão compor a tese de pós-doutorado do biólogo André Afonso. O pesquisador vai  cruzar as informações que tem coletado ao longo dos últimos anos,  com capturas feitas na capital pernambucana. Os tubarões que circulam em Fernando de Noronha podem vir do Recife. Os estudos procuram respostas para os  motivos que levam os animais a atacarem os banhistas no continente e , teoricamente, não oferecem perigo na ilha. Mas também deve-se levar em consideração o  primeiro ataque registrado em Noronha, em dezembro do ano passado, quando o turista Márcio de Castro, do Paraná,  perdeu a mão e parte do braço.
“O que eu sei é que os tubarões-tigre se alimentam de tartarugas marinhas. Fernando de Noronha tem registrado um maior número de tartarugas e os tubarões  procuram áreas para se alimentar , aqui é um local atrativo. A ilha também tem recebido mais turistas. Se temos mais tartarugas, mais tubarões e mais turistas mergulhando,  cresce a possibilidade de incidentes. Não existe lugar no mundo onde existam tubarões e pessoas que se possa garantir que não vão acontecer ataques. Pode-se ter um ataque a cada cem anos”, analisou o pesquisador André Afonso.
 Transmissores acústicos
“Estamos estudando também como os tigres estão utilizando as áreas de Fernando de Noronha. Nós vamos colocar transmissores acústicos em alguns pontos estratégicos no mar. Queremos saber quais regiões os animais passam mais tempo e  quando se aproximam da costa. Toda vez que o tubarão que estiver com o transmissor passar por esses pontos teremos o registro. A ideia é instalar 16 equipamentos em locais frequentados por turistas, em zonas mais rasas, e outros em regiões de maior profundidade”, afirmou o biólogo.

Os equipamentos são caros, a pesquisa está orçada em cerca de 500 mil reais. O trabalho tem o financiamento da CAPS (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e conta também com o apoio de entidades internacionais e ainda investimentos pessoais. “Caso a gente tenha algum apoio do Governo do Estado ou do Chico Mendes nós poderíamos comprar mais transmissores e ampliar a pesquisa”, disse André Afonso.

O biólogo marinho também participou da expedição norte-americana Ocearch, que capturou tubarões-tigres em Noronha para pesquisa, no ano de  2014. Naquela época foram capturados seis tubarões em dez dias de atividade. “Nós agora estamos utilizando técnicas diferentes. Na expedição Ocearch a gente usava linha de mão com um anzol, agora  estamos usando o espinhel com dez anzóis ,  talvez por isso a gente esteja com resultado mais positivo”, disse André Afonso. A próxima expedição para captura de tubarões-tigres na ilha  deve ser realizada no mês de julho.